domingo, 12 de abril de 2009

Quem matou Salomão Ayala?

Estava eu estes dias, num café da cidade, conversando com uma amiga, quando, sem querer querendo, acabei por escutar um grupo de jovens na mesa ao lado que, animadamente, discorria uma longa e interessante conversa acerca de telenovelas. Fiquei encafifado. Telenovelas. Uma verdadeira instituição nacional. Tem para todos os gostos, não fazendo qualquer distinção entre gênero, número e grau. Do doutor à secretária, da patroa à babá, todo mundo assiste, comenta e torce. Torce pra mocinha da periferia casar com o bonitão da alta sociedade, para o vilão malvado experimentar do próprio veneno as maldades cometidas. Final de novela então, mobiliza mais que final de Copa do Mundo. Acho que até o Presidente, depois do expediente, se achega com a primeira-patroa e dá uma olhadinha.
Novela no Brasil tem tradição de longa data. Começaram no rádio, muitas vezes transmitidas ao vivo. A partir de 1950, Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados, grande cadeia de jornais e emissoras de rádio, deu impulso à telinha no Brasil, e, treze anos mais tarde, em 1963, a “Telenovela” resolveu dar o ar da sua graça nos lares tupiniquins, com a exibição da trama 2-5499 Ocupado, na extinta TV Excelsior. O que torna a novela esse fenômeno de audiência? Primeiro, uma esperta combinação na grade de programação. Passa naquele horário logo depois do principal jornal da emissora, quando todo mundo ficou sabendo dos principais fatos do dia. Segundo, exibe tramas facilmente ligadas ao cotidiano das pessoas, que vão desde tabus sexuais, passando pela luta do bem contra o mal chegando até os conflitos entre classes sociais. O que mais me chama a atenção, porém, é a capacidade que ela tem de colocar pra fora, no conforto do nosso sofá, sentimentos guardados a sete chaves, que talvez em horas no divã não viessem à tona com tanta facilidade. Ou o que poderia explicar aquele sentimento de satisfação ao ver o impiedoso mal caráter comer o pão que o tinhoso amassou no último capítulo? Ou aquele estágio de “pré lágrimas” ao ver a mãe reencontrar o filho depois de anos numa procura incansável? Para mim, só Freud explica. Ou Glória Perez.
Obviamente, não podemos generalizar. Nem todos gostam de novela. Até o autor deste texto confessa aqui não ser muito fã dos folhetins. Para muitos, um documentário a respeito da, digamos, singela dança de acasalamento dos elefantes é de muito mais utilidade. O problema é ter assunto pro dia seguinte no trabalho, quando você topa com seu colega no corredor e ele comenta aquela sinopse do capítulo da noite anterior. E então, você comenta o que? Nada, resigna-se ao silêncio, pensando na incapacidade das pessoas em admirar a beleza dos paquidermes. Mas tudo bem. Para quem torce o nariz sobre a atração televisiva, é de louvável mérito o serviço que elas prestam à população. Uma novela informa, leva cultura, mostra o Brasil. Nos mais diversos cantos do país, ela consegue, com seu poder de interação, colocar o brasileiro à par de temas importantes da sociedade, gerando discussão, formando opinião. Oxalá se houvesse no país a mesma abrangência e efervescência de idéias em temas como saúde, educação ou ética na política, por exemplo. Mas isso é outra novela.

Um comentário:

  1. Olha só! Adorei.
    (E, pessoalmente, também fico com os paquedermes)
    PS: Ana Luiza aqui!

    *bidinhatbla@hotmail.com

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