sábado, 18 de abril de 2009

Abobrinhas

Brasileiro vive a vida à base da felicidade em prestações e cheque pré datado...

domingo, 12 de abril de 2009

Quem matou Salomão Ayala?

Estava eu estes dias, num café da cidade, conversando com uma amiga, quando, sem querer querendo, acabei por escutar um grupo de jovens na mesa ao lado que, animadamente, discorria uma longa e interessante conversa acerca de telenovelas. Fiquei encafifado. Telenovelas. Uma verdadeira instituição nacional. Tem para todos os gostos, não fazendo qualquer distinção entre gênero, número e grau. Do doutor à secretária, da patroa à babá, todo mundo assiste, comenta e torce. Torce pra mocinha da periferia casar com o bonitão da alta sociedade, para o vilão malvado experimentar do próprio veneno as maldades cometidas. Final de novela então, mobiliza mais que final de Copa do Mundo. Acho que até o Presidente, depois do expediente, se achega com a primeira-patroa e dá uma olhadinha.
Novela no Brasil tem tradição de longa data. Começaram no rádio, muitas vezes transmitidas ao vivo. A partir de 1950, Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados, grande cadeia de jornais e emissoras de rádio, deu impulso à telinha no Brasil, e, treze anos mais tarde, em 1963, a “Telenovela” resolveu dar o ar da sua graça nos lares tupiniquins, com a exibição da trama 2-5499 Ocupado, na extinta TV Excelsior. O que torna a novela esse fenômeno de audiência? Primeiro, uma esperta combinação na grade de programação. Passa naquele horário logo depois do principal jornal da emissora, quando todo mundo ficou sabendo dos principais fatos do dia. Segundo, exibe tramas facilmente ligadas ao cotidiano das pessoas, que vão desde tabus sexuais, passando pela luta do bem contra o mal chegando até os conflitos entre classes sociais. O que mais me chama a atenção, porém, é a capacidade que ela tem de colocar pra fora, no conforto do nosso sofá, sentimentos guardados a sete chaves, que talvez em horas no divã não viessem à tona com tanta facilidade. Ou o que poderia explicar aquele sentimento de satisfação ao ver o impiedoso mal caráter comer o pão que o tinhoso amassou no último capítulo? Ou aquele estágio de “pré lágrimas” ao ver a mãe reencontrar o filho depois de anos numa procura incansável? Para mim, só Freud explica. Ou Glória Perez.
Obviamente, não podemos generalizar. Nem todos gostam de novela. Até o autor deste texto confessa aqui não ser muito fã dos folhetins. Para muitos, um documentário a respeito da, digamos, singela dança de acasalamento dos elefantes é de muito mais utilidade. O problema é ter assunto pro dia seguinte no trabalho, quando você topa com seu colega no corredor e ele comenta aquela sinopse do capítulo da noite anterior. E então, você comenta o que? Nada, resigna-se ao silêncio, pensando na incapacidade das pessoas em admirar a beleza dos paquidermes. Mas tudo bem. Para quem torce o nariz sobre a atração televisiva, é de louvável mérito o serviço que elas prestam à população. Uma novela informa, leva cultura, mostra o Brasil. Nos mais diversos cantos do país, ela consegue, com seu poder de interação, colocar o brasileiro à par de temas importantes da sociedade, gerando discussão, formando opinião. Oxalá se houvesse no país a mesma abrangência e efervescência de idéias em temas como saúde, educação ou ética na política, por exemplo. Mas isso é outra novela.

Sobre lembranças e vinhos.

Lembranças. Todos nós as temos guardadas a sete chaves dentro daquilo que a psicanálise chama de subconsciente. Se me permitem, prefiro chamar de coração. A cabeça é racional, calculista, sabe a hora que certas coisas devem ser postas na mesa. Já o coração não; é ele que sente, absorve para dentro de si e, numa hora sem mais nem menos, desenterra fragmentos de coisas passadas, que estão sempre ali, caminhando conosco dia após dia. Ressurgem do nada. Podem vir à tona quando passamos por um belo jardim e nele sentimos aquele cheiro familiar de grama cortada. No cinema, ao vermos um jovem casal se apertando juntinho num abraço carinhoso, podemos sentir as deliciosas sensações dos primeiros namorinhos da adolescência, que surgiam em meio à recém descoberta juventude, com toda aquela enchente de sensações e hormônios à flor da pele.
As lembranças podem ser boas ou ruins. Se forem boas, nos fazem soltar aquele sorrisinho besta, de canto de boca, nas horas mais inoportunas. Se forem ruins, bem, também carregam seu devido valor, pois são de muitas delas que tiramos as lições para sermos melhores pessoas a cada dia. Se de alguma delas ressurge a mágoa ou a ira por alguém, devemos então tomar cuidado. Podemos estar alimentando uma planta venenosa, que, definitivamente, não vai mudar em nada aquilo que já passou. A única coisa que podemos cultivar através destas lembranças ruins é a planta do perdão e da compreensão, esta sim, que dá bons frutos, essenciais para estarmos em paz conosco e com aquele que, pelos acasos da vida, acabou nos fazendo algum mal.
O mais interessante é que não conseguimos estabelecer direito quais acontecimentos serão guardados ou quais serão esquecidos. Se o encontro da última noite com aquela pessoa que você conheceu na fila do banco será memorável, digno de uma linda história ou dedicado às páginas do esquecimento, infelizmente, meu amigo ou minha amiga, isso só o tempo é quem vai dizer. Quantas recordações não guardamos de acontecimentos ou coisas banais, que, aparentemente, não fazem muito sentido à nossa vida presente? Ou atire a primeira pedra aquele que não guarde consigo o cheiro do lápis de cera da escola ou o barulho da porteira se abrindo no sítio dos avós. Coisas relativamente simples, mas que preservam, ao jeito de cada um, a textura do passado.
Sustento a tese de que nossas lembranças podem ser comparadas a um vinho. O que importa de verdade não é o valor, a marca ou o tempo de envelhecimento. O que importa realmente é quem está do seu lado naquele momento tão especial, apreciando a bebida gole por gole. Da mesma forma são nossas lembranças. O bacana delas é termos alguém especial para compartilhá-las, revelar nossos segredos mais bem guardados, numa troca inebriante de experiências, sensações sentidas, momentos vividos. Não possuímos, de todo, nossas lembranças. Elas apenas permanecem engarrafadas, esperando o momento certo para serem abertas e servidas. Se pudéssemos dar um nome à esta, digamos, bebida para a alma, poderíamos chamá-la, quem sabe, de “História da Vida”.

Certo, vamos tentar então.

É com muita alegria que inauguro este blog. O fato de colocar público algo que até então era assunto estritamente privado, muita vezes reservado somente a mim, meu computador e eventualmente a lixeira de arquivos é desafiador. Sempre gostei de escrever. Laborar durante uma, duas ou cinco horas em cima de um pensamento, uma impressão, ou como o próprio blog sugere, um ponto de vista é exercício de grande prazer.
Escolhi o título do blog pensando numa frase de Leonardo Boff em um livro chamado “A águia e a galinha - uma metáfora sobre a condição humana”. Todo ponto de vista é uma vista sobre determinado ponto. E é a partir da formação e evolução de nosso ponto de vista sobre as coisas que regem nossa vida é que abrimos novos horizontes para nos tornarmos melhores pessoas, conscientes de nosso papel na compreensão e evolução da sociedade como um todo. E como vocês poderão ver, são muitos os pontos no qual tentei ao menos dedicar um esboço sobre determinadas coisas. Vou procurar não me prender à temáticas constantes. E já estou aqui fazendo minha fezinha em cima dos meus textos. Fique á vontade para postar críticas, comentários e, caso sobre um tempinho, até algum elogio. Espero que goste.