sábado, 18 de julho de 2009

E quando é o próximo feriado, hein?

Brasileiro é mesmo pitoresco: reserva o feriado da Sexta Feira Santa do consumo de carne bovina, porém não deixa de reunir os parentes ou os amigos e faz aquela folia regada à peixe assado e muita cerveja. Tirando o cunho religioso da questão, é interessante analisarmos a dinâmica dos feriados nacionais. Primeiro vem a conferência, logo no começo do ano, dos feriados que vêm pela frente: com caneta e folhinha na mão são anotados um à um, com relevância aos feriadões, aqueles que caem na quinta, na sexta, na segunda ou na terça feira.
Feita a devida verificação, é hora do planejamento: brasileiro costuma planejar com muita antecedência os seus feriadões. Faz os cálculos, manda o carro para a revisão e deixa previamente combinado com o cunhado a data vindoura. Chegado o grande dia, carrega o carro com mulher, filhos, sogra, o boxer Rex, o casal de papagaios e se encaminha para o veraneio. Pode ser a casa do cunhado, do irmão que mora em Catolé do Rocha ou da mãe, que, coitada, que vai receber pelo menos mais uns três ou quatro filhos, todos com as respectivas famílias. Mas tudo bem. Em casa de mãe no feriado sempre cabe mais um, e o importante é o merecido descanso. Descanso? Bem, vamos dar uma olhada: você chega na casa do cunhado, do irmão, da mãe, etc. e lá começam as tarefas básicas, não necessariamente nesta ordem: cumprimentar os parentes, descarregar o carro, comprar gelo e carvão, ir no vizinho buscar uma dúzia de cadeiras emprestadas, limpar a churrasqueira e olhar as crianças correndo pela casa. As cenas são sempre as mesmas: o anfitrião da casa sempre com o sorriso no rosto; as mulheres, todas efusivamente alegres com a bagunça dos maridos; você, como um menino levado, jogando água no seu cunhado. No último dia do feriado, as cenas se repetem, porém com um pouco menos de entusiasmo: o anfitrião com a cara amarrada, louco de vontade de estar longe dali, em algum lugar longe da civilização; as mulheres, cansadas da bagunça dos maridos, permanecem jogadas em colchões e sofás espalhados pela casa, que à estas horas mais parece um campo de batalha; você, discutindo seriamente com seu cunhado sobre a conjuntura econômica do país ou sobre a situação política do Irã ao lado do tanque de lavar roupas, que nestas horas já virou o “cooler” para armazenar cerveja. Mas como tudo chega ao fim, inclusive o feriado, é hora de partir. No rosto do anfitrião pode-se notar um singelo sorriso de canto de boca misturado a uma ligeira sensação de alívio. Você carrega o carro com a mulher, os filhos, a sogra etc., etc., e parte para o intrépido calvário da volta ao lar: rodovias lotadas, demora nos pedágios, o boxer Rex latindo no banco de trás e os filhos reclamando da demora. No dia seguinte, no trabalho, seu colega faz a invariável pergunta: “E aí, aproveitou o feriado?” e você, com as olheiras de cansaço dos dias anteriores, manda a invariável resposta: “Nossa, muito!”.
Feriadão é assim mesmo. E quem nunca participou de um, que atire a primeira pedra. Há quem reclame da quantidade de feriados existentes no país. Mas vendo pelo lado do cidadão que trabalha (muito) e paga (muitos) impostos neste país, uns dias de folga são, quiçá, merecidos. Os únicos que não possuem este privilégio são certos políticos das esferas lá de cima: para alguns deles, o feriado é prolongado o ano inteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário